
A maternidade é um dos momentos mais transformadores na vida de uma mulher, mas também um dos maiores desafios quando se trata de equilibrar a vida pessoal e a carreira. Apesar dos avanços sociais e profissionais conquistados pelas mulheres nas últimas décadas, a chegada de um filho ainda é um divisor de águas que impacta significativamente a trajetória profissional feminina. Dados recentes mostram que as mães continuam sendo penalizadas no mercado de trabalho, enfrentando obstáculos que vão desde a discriminação até a falta de políticas de apoio adequadas.
O impacto da maternidade na carreira
Um estudo realizado pela London School of Economics and Political Science (LSE) em parceria com a Universidade Princeton revelou que a maternidade é um fator determinante para a interrupção ou desaceleração da carreira das mulheres. A pesquisa, que analisou a situação de trabalhadores em 134 países, mostrou que 24% das mulheres deixam seus empregos no primeiro ano de vida do bebê, e 15% permanecem fora do mercado de trabalho uma década após o nascimento do primeiro filho. No Brasil, os números são ainda mais alarmantes: 42% das novas mães abandonam suas ocupações após darem à luz, e 35% continuam fora do mercado dez anos depois.
Essa realidade não apenas afeta a vida das mulheres, mas também tem consequências econômicas e sociais mais amplas. Como destacou Camille Landais, professor da LSE e coautor do estudo, "as mulheres têm níveis mais elevados de educação, e tirá-las do mercado significa perder mão de obra qualificada". Além disso, a desigualdade de gênero no ambiente de trabalho perpetua um ciclo de injustiça que impacta não apenas as mães, mas toda a sociedade.
Desafios no mercado de trabalho
Um dos principais desafios enfrentados pelas mães no mercado de trabalho é a falta de políticas de apoio que permitam conciliar a carreira com as responsabilidades familiares. Enquanto homens que se tornam pais são frequentemente vistos como profissionais dedicados que precisam prover para a família, as mulheres são percebidas como divididas entre o trabalho e os filhos. Essa percepção desigual muitas vezes resulta em discriminação, como relata a advogada Paola Massambane, que foi demitida após retornar da licença-maternidade, apesar de ter apresentado excelentes avaliações de desempenho.
Além disso, a responsabilidade pelas tarefas domésticas e o cuidado com os filhos ainda recai predominantemente sobre as mulheres, especialmente nas classes sociais menos favorecidas. Sem uma rede de apoio para lidar com imprevistos, como doenças infantis, muitas mães são forçadas a abandonar seus empregos. A publicitária Luisa Laranja, por exemplo, decidiu deixar seu cargo para cuidar da filha de 9 meses, que sofria de refluxo severo e não foi aceita em creches. "Pedi para ficar em home office, mas não havia essa opção e saí", relata.
Soluções e dicas para conciliar maternidade e carreira
Diante desses desafios, é urgente que empresas, governos e a sociedade como um todo promovam mudanças que permitam às mães conciliar a carreira com a maternidade. Algumas medidas que podem ajudar incluem:
Licenças parentais equilibradas: Países como a Noruega, que oferecem licenças parentais generosas e permitem que sejam divididas igualmente entre pai e mãe, mostram que é possível promover a igualdade de gênero no mercado de trabalho. No Brasil, a ampliação da licença-paternidade e a criação de políticas que incentivem a divisão igualitária das responsabilidades familiares são passos importantes.
Flexibilidade no trabalho: A adoção de modelos de trabalho flexíveis, como home office e horários adaptáveis, pode ajudar as mães a conciliar suas responsabilidades profissionais e pessoais. Empresas que oferecem essas opções tendem a reter talentos e aumentar a satisfação dos funcionários.
Rede de apoio: Ter uma rede de apoio, seja de familiares, amigos ou serviços de creche, é essencial para que as mães possam continuar suas carreiras sem abrir mão do cuidado com os filhos. Políticas públicas que ampliem o acesso a creches de qualidade e serviços de apoio às famílias são fundamentais.
Conscientização e combate à discriminação: É necessário combater a discriminação contra mães no ambiente de trabalho, promovendo uma cultura organizacional que valorize a diversidade e a inclusão. Campanhas de conscientização e treinamentos sobre vieses inconscientes podem ajudar a mudar essa realidade.
Planejamento e autocuidado: Para as mães, é importante planejar a carreira e a maternidade de forma estratégica, buscando equilíbrio entre as duas esferas. O autocuidado também é essencial para manter a saúde física e mental, permitindo que as mulheres desempenhem seus papéis de forma plena.
O papel da EmpregaSaúde
Nesse contexto, iniciativas como a EmpregaSaúde surgem como aliadas fundamentais para as mães que buscam equilibrar carreira e maternidade. A EmpregaSaúde é uma plataforma que conecta profissionais da saúde a oportunidades de trabalho flexíveis e adaptáveis, permitindo que mães possam atuar em sua área de expertise sem abrir mão do cuidado com os filhos. Ao oferecer opções como home office, horários reduzidos e projetos sob demanda, a EmpregaSaúde não apenas facilita a reinserção de mães no mercado de trabalho, mas também promove um ambiente mais inclusivo e acolhedor. Essa abordagem inovadora é um exemplo de como empresas e plataformas podem contribuir para reduzir as desigualdades e apoiar as mulheres em sua jornada profissional e pessoal.
Conciliar maternidade e carreira é um desafio complexo, mas não impossível. A mudança começa com a conscientização sobre as desigualdades enfrentadas pelas mães no mercado de trabalho e a implementação de políticas que promovam a igualdade de gênero. Empresas, governos e a sociedade têm um papel crucial nesse processo, e as mulheres não devem ter que escolher entre ser mães e ser profissionais bem-sucedidas. Como destacou o estudo da LSE, "a situação não é justa, simples assim". É hora de mudar essa realidade e garantir que todas as mulheres possam viver plenamente suas vidas pessoais e profissionais.
Fontes:
Estudo da London School of Economics and Political Science (LSE) e Universidade Princeton.
Dados do Banco Mundial.
Relatos e informações publicados na revista Veja, edição nº 2882, de 1° de março de 2024.
Comentários